sexta-feira, 16 de julho de 2010

53 500 Interrupções Voluntarias da Gravidez em três anos



Foi á três anos que a interrupção voluntaria da gravidez foi legalizada. Nessa altura os partidários do sim reagiam assim:

“"Vitória! Vitória! Vitória!", gritavam actrizes de telenovelas em uníssono com professores universitários. "Ganhámos! Ganhámos!", dizia alguém ao telefone. Maria Antónia Palla, combatente de longa data pela despenalização do aborto, não escondia a emoção: "É o reconhecimento de que as mulheres têm capacidade para assumir uma decisão que é a mais grave que se pode tomar na vida"”

"Agora é precisa muita atenção à regulamentação da lei, para que não se perca esta dinâmica. Não devem ser impostas muitas limitações, como comissões de acompanhamento e complicações do género, que são um atestado de menoridade da mulher."

“"Esta vitória representa o princípio do fim do aborto clandestino em Portugal. Compete agora à Assembleia da República a alteração urgente da lei", acentuou Marta Craw-ford, sublinhando que o referendo constitui um "sinal claro ao Ministério [da Saúde] para que o Serviço Nacional de Saúde se organize modo a que a lei seja implantada".”

“o direito à liberdade da mãe e o direito à vida do embrião. Aliás, os próprios movimentos que se opõem manifestam isto mesmo, ao denominarem-se respectivamente "pela escolha" e "pela vida". Assim, a resposta à pergunta do referendo apresenta-se de forma cortante. Quem acha que a liberdade da mulher para determinar a sua vida e o seu corpo é essencial deve votar "sim".”

“Quem vota "sim" tem de estar preparado para levar a sua defesa da liberdade da mulher a ponto de se sobrepor à vida do filho em gestação.”

Ler mais:


http://dn.sapo.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=651662

http://dn.sapo.pt/Inicio/interior.aspx?content_id=652729

Hoje passados esses mesmos três anos, os números, as estatísticas, as reacções são estas:

“Pelo menos um terço das mulheres que fazem interrupções voluntárias da gravidez (IVG) faltam à consulta de planeamento familiar, obrigatória por lei. Mas há unidades em que esta percentagem sobe para metade dos atendimentos e chega até a 90%. A situação é apontada como uma das causas de repetição de abortos e já levou vários médicos a defender o pagamento de taxas moderadoras para mulheres que fazem mais do que uma IVG.”

“E as previsões do Ministério da Saúde de 20 mil interrupções anuais estão perto de se concretizar. Mas os médicos denunciam que o planeamento familiar continua a falhar.”

“O estudo da FPV baseia-se nos dados da Direcção-Geral de Saúde (DGS) e estima que nos últimos três anos tenham sido feitos 53 500 abortos legais em Portugal. De acordo com os dados da DGS, entre Julho de 2007 e Junho de 2008 foram realizadas 15 370 IVG "por opção da mulher" e entre Junho de 2008 e Junho de 2009, 18 856.”

““Eram já conhecidos indicadores preocupantes no que se refere ao aborto após a aprovação da lei, mas ficámos agora a saber, pela voz do presidente do Conselho Nacional de Ética, que os resultados vão no sentido oposto do que foi propagado pelos que promoveram a liberalização e viabilizaram a lei: 50% das mulheres que fazem aborto faltam à consulta de planeamento familiar obrigatória 15 dias depois; há mulheres que fazem, no Serviço Nacional de Saúde, dois ou três abortos por ano; o número de abortos aumentou de 12 mil para 18 mil em 2008 e para 19 mil em 2009.”

“São os riscos de legislar num clima de contenda ideológica sobre questões que têm a ver com a vida e a morte, com o respeito e a dignidade, com a responsabilidade individual e colectiva, com princípios básicos de civilização. Este núcleo duro foi e é o âmago da questão e não devia ser varrido por argumentários que parecem ignorar o essencial da condição humana e o valor das vítimas, de todas as vítimas do aborto.”

“É também um exemplo de má fé legislativa: os adeptos do "sim" sabiam que esta lei não iria resolver nada e, pelo contrário, agravaria a situação. Ninguém com um mínimo de conhecimento da realidade, das causas que estão na origem do aborto, da heterogeneidade das situações, da desigualdade das condições podia, de boa-fé, acreditar na bondade da lei. Aceitaram-se como bons dados forjados, ouviram-se peritos escolhidos à la carte, criou-se um discurso ditatorial, explorou-se a compaixão das pessoas e apagou--se o histórico.”

“Uma lei que liberaliza, que consagra o aborto a pedido sem necessidade de qualquer justificação, é uma lei que institui a violência pela consagração de medidas desproporcionais e banaliza um acto que, em qualquer circunstância, é sempre de extrema gravidade. Criou-se nesta, como em outras questões éticas, uma cultura desumana assente na exaltação do egoísmo e da irresponsabilidade: da mulher em relação a si própria, em relação a um terceiro cujo direito a nascer é preterido ao menor capricho, em relação à sociedade em geral que não se revê num desmazelo militante cuja factura não quer pagar, em relação aos profissionais de saúde que abraçaram uma vocação assente em valores que estes actos violentam, e que estão na primeira linha de um SNS de recursos escassos e necessidades crescentes.”

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