domingo, 1 de agosto de 2010

Onde está o demónio?



Ao ler este artigo de opinião do Padre Anselmo Borges publicado ontem do jornal Diário de Noticias (http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1631057&seccao=AnselmoBorges&tag=Opini%E3o-EmFoco) fiquei com a sensação de que o meu conceito do demónio está muito próximo do conceito de grandes pensadores da Igreja, senão vejamos:

Eu, com base na minha humilde formação Cristã, considero que o demónio é o nosso lado animal (egoísmo, prazer fácil, apego aos bens materiais, etc), e não nada exterior ao ser humano, nada vindo do alto.

O Padre Anselmo Borges escreve o seguinte:

“Já na década de 60 do século passado, um dos maiores exegetas católicos, professor da Universidade de Tubinga, Herbert Haag, escreveu uma obra justamente célebre Abscied vom Teufel (Adeus ao diabo), mostrando que não há qualquer fundamento para a crença no demónio.
O que se passa é que há o mal no mundo e o seu horror: sofrimento, traições, torturas, genocídios, doenças esmagadoras. Donde vem o mal, se Deus é infinitamente bom? O diabo poderia, numa primeira aproximação, ser um explicação. Ele tentou e tenta o ser humano, este cai na tentação e provoca o mal. Mas já Immanuel Kant pôs na boca de um catequizando iroquês a pergunta: Por que é que Deus não acabou com o diabo? E há uma outra pergunta: Quem tentou os anjos, para que eles, de bons, se transformassem em demónios?
Colocar o diabo ao lado de Deus, no quadro de um dualismo maniqueu, é uma contradição. O diabo não explica nada. O mal é inevitável por causa da finitude.
É verdade que nos Evangelhos Jesus aparece a expulsar os demónios. Certamente participou da crença do seu tempo, que atribuía as doenças ao demónio. Hoje sabemos que se tratava de pessoas com ataques epilépticos ou sofrendo de histeria, de doenças do foro psiquiátrico. E não se pode esquecer a linguagem simbólica. Caso paradigmático é o daquele passo no qual Jesus expulsa os espíritos malignos - "o meu nome é Legião" - de um homem apanhado pela desgraça, enviando-os para uma vara de porcos (uns dois mil), que se precipitou no abismo do mar. Tudo se torna claro, quando se sabe que o porco era um animal impuro e o mar, o lugar dos monstros e símbolo do mal.
É essencial perceber que Jesus anunciou Deus e o seu Reino e não Satanás. O diabo não faz parte do Credo cristão. O diabo apenas pode aparecer como símbolo personificado de todo o mal que ainda aflige a humanidade, mas que Deus combate e a que há-de pôr termo, segundo a Boa Nova de Jesus.
O diabo não pode ser apresentado como concorrente de Deus, uma espécie de Anti-Deus, nem faz sentido pensar que ele se mete nas pessoas, para tomar conta delas. Não há possessos demoníacos, mas apenas doenças e doentes de muitas espécies, que é preciso ajudar. E, se Jesus anunciou Deus e não Satanás, o que faz falta é combater tudo o que na vida pessoal e pública é diabólico e impede o Reino de Deus: a injustiça, a corrupção, o orgulho, a ignorância, a falta de solidariedade.”



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