O artigo de opinião do Doutor Manuel Maria Carrilho publicado esta semana no jornal Diário de Noticias fala-nos de crise, globalização e consumismo:
“Os produtos especulativos mais perigosos continuam a acumular-se. Os défices públicos aumentam. O nível de produção e o valor dos patrimónios permanecem largamente inferiores ao que eram antes da crise. As falências das empresas aumentam, o desemprego amplifica-se, as famílias não conseguem respeitar os seus compromissos. Enfim, apesar de todos os discursos e promessas, nenhuma regulação do sistema financeiro e nenhuma das alterações estruturais que a crise tornou necessárias se concretizou até hoje. A incapacidade do Ocidente em manter o seu nível de vida sem se endividar - que é a causa mais profunda desta crise - está longe de ter sido ultrapassada."
“Depois de quase duas décadas de globalização tão entusiástica na ilusão do seu triunfo, como imprudente na avaliação dos seus efeitos, eis que a sua primeira verdadeira crise se revela de um dramatismo inesperado. E por duas razões, ou melhor, devido a uma dupla incapacidade: por um lado, a incapacidade para se pensarem as inúmeras interdependências em que, e a todos os níveis, vivemos hoje. E, por outro lado, a incapacidade para se agir sobre elas, de um modo compreensível, pedagógico e eficaz.”
“Se há lição que é preciso tirar da evolução da globalização, é que a interdependência deixou de ser uma garantia contra o risco, para se tornar no seu principal elemento de propagação. Como de resto se vê bem pelas "bolhas" que se têm multiplicado nas últimas décadas a um ritmo sem precedentes na história do capitalismo.”
Deixa-nos também estas questões inquietantes, que toda a sociedade terá de resolver:
“Mas qual pode ser esta opção? Esta é, sem dúvida a mais difícil de todas as questões, mas a iminência da avalanche impõe-na de um modo cada vez mais claro. Como substituir as funções sociais, os modelos comportamentais, as múltiplas expectativas que se associam a esse modelo? Haverá felicidade, individual e colectiva, sem perspectivas de um tal crescimento? Será possível equacionar uma nova ideia de progresso, fora do eixo produtivismo/consumismo?”
Fala-nos dos caminhos que a sociedade global terá de percorres, catalogando-os de utopias:
"A utopia ecológica, que procura estabelecer regras universais que garantam o equilíbrio do planeta - e que sofreu um grande revés com o fracasso de Copenhaga."
"A utopia tecnológica, que aposta sobretudo em "esverdear"o crescimento, acreditando que a humanidade acaba sempre por encontrar soluções técnicas para os seus problemas, nomeadamente para aqueles que decorrem das crises de escassez."
“E a utopia antropológica, que procura estimular uma reflexão de fundo sobre o modo de vida das nossas sociedades, as raízes e os efeitos da extrema dependência em relação ao hiperconsumo nos modelos de vida hoje dominantes. Como bem diz Cohen, esta é a utopia decisiva, porque é ela que "obriga a que nos interroguemos sobre o que há de mais inessencial na civilização material que o Ocidente exportou para o resto do mundo, e a questionar os fundamentos das nossas sociedades".”
Será que não passam verdadeiramente de utopias? Ou será que são deveras o caminho mais coerente para toda a humanidade?
Este artigo leva-me a pensar que toda esta crise se deve á adopção de alguns pecados sociais como virtudes. Senão vejamos:
O consumismo é sinónimo de inveja, quando se torna excessivo e desproporcional, as pessoas adquirem bens que não são de primeira necessidade mesmo sem ter grande poder económico, só para não se sentirem inferiores aos outros, endividando-se excessivamente.
“Os produtos especulativos mais perigosos continuam a acumular-se. Os défices públicos aumentam. O nível de produção e o valor dos patrimónios permanecem largamente inferiores ao que eram antes da crise. As falências das empresas aumentam, o desemprego amplifica-se, as famílias não conseguem respeitar os seus compromissos. Enfim, apesar de todos os discursos e promessas, nenhuma regulação do sistema financeiro e nenhuma das alterações estruturais que a crise tornou necessárias se concretizou até hoje. A incapacidade do Ocidente em manter o seu nível de vida sem se endividar - que é a causa mais profunda desta crise - está longe de ter sido ultrapassada."
“Depois de quase duas décadas de globalização tão entusiástica na ilusão do seu triunfo, como imprudente na avaliação dos seus efeitos, eis que a sua primeira verdadeira crise se revela de um dramatismo inesperado. E por duas razões, ou melhor, devido a uma dupla incapacidade: por um lado, a incapacidade para se pensarem as inúmeras interdependências em que, e a todos os níveis, vivemos hoje. E, por outro lado, a incapacidade para se agir sobre elas, de um modo compreensível, pedagógico e eficaz.”
“Se há lição que é preciso tirar da evolução da globalização, é que a interdependência deixou de ser uma garantia contra o risco, para se tornar no seu principal elemento de propagação. Como de resto se vê bem pelas "bolhas" que se têm multiplicado nas últimas décadas a um ritmo sem precedentes na história do capitalismo.”
Deixa-nos também estas questões inquietantes, que toda a sociedade terá de resolver:
“Mas qual pode ser esta opção? Esta é, sem dúvida a mais difícil de todas as questões, mas a iminência da avalanche impõe-na de um modo cada vez mais claro. Como substituir as funções sociais, os modelos comportamentais, as múltiplas expectativas que se associam a esse modelo? Haverá felicidade, individual e colectiva, sem perspectivas de um tal crescimento? Será possível equacionar uma nova ideia de progresso, fora do eixo produtivismo/consumismo?”
Fala-nos dos caminhos que a sociedade global terá de percorres, catalogando-os de utopias:
"A utopia ecológica, que procura estabelecer regras universais que garantam o equilíbrio do planeta - e que sofreu um grande revés com o fracasso de Copenhaga."
"A utopia tecnológica, que aposta sobretudo em "esverdear"o crescimento, acreditando que a humanidade acaba sempre por encontrar soluções técnicas para os seus problemas, nomeadamente para aqueles que decorrem das crises de escassez."
“E a utopia antropológica, que procura estimular uma reflexão de fundo sobre o modo de vida das nossas sociedades, as raízes e os efeitos da extrema dependência em relação ao hiperconsumo nos modelos de vida hoje dominantes. Como bem diz Cohen, esta é a utopia decisiva, porque é ela que "obriga a que nos interroguemos sobre o que há de mais inessencial na civilização material que o Ocidente exportou para o resto do mundo, e a questionar os fundamentos das nossas sociedades".”
Será que não passam verdadeiramente de utopias? Ou será que são deveras o caminho mais coerente para toda a humanidade?
Este artigo leva-me a pensar que toda esta crise se deve á adopção de alguns pecados sociais como virtudes. Senão vejamos:
O consumismo é sinónimo de inveja, quando se torna excessivo e desproporcional, as pessoas adquirem bens que não são de primeira necessidade mesmo sem ter grande poder económico, só para não se sentirem inferiores aos outros, endividando-se excessivamente.
O capitalismo é sinónimo de ganância, quando se torna desproporcionado, os patrões, os gestores, etc, esquecem-se dos seus funcionários e só pensam nos lucros e nos seus prémios.
O individualismo é sinónimo de soberba, quando se torna exagerado, faz com que a pessoa se esqueça do outro, faz com que olhemos para a vida e a sociedade como um campo de batalha, faz com que não olhemos a meios para atingir os nossos objectivos.
Por ultimo e se calhar o mais importante de todos os nossos pecados sociais é o deturpar do sinónimo de felicidade. Hoje em dia ser feliz é ter tudo o que se quer, é fazer aquilo que se quer, é desfrutar de todos os prazeres terrenos como se não houvesse amanhã, etc.
Será que tudo isto é sinónimo de felicidade?
«Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas?
Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé?
Não vos preocupeis, dizendo: 'Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?' Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.» (Mt 6, 25-34)
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