Como já escrevi em outras ocasiões, para mim uma das principais razões da actual crise, é uma outra crise! A crise de valores morais!
Que moral teremos nós, comuns cidadãos, para criticar os nossos políticos pelas suas atitudes pouco éticas, quando nós fazemos o mesmo?
Ou será que viver acima das possibilidades, fugir aos impostos, pedir ou meter uma cunha por um amigo, tentar subornar uma autoridade ou receber parte do vencimento por fora sem fazer descontos, é prática exclusiva dos nossos políticos? Não me parece!
O Padre Anselmo Borges e o Doutor João César das Neves, dois dos cronistas que escrevem no jornal Diário de Noticias, e que mais aprecio, comprovam em parte a minha teoria:
“Os seres humanos são constitutivamente abertos à questão ética, porque nascem por fazer, devido à neotenia, e devem fazer-se bem moralmente, porque a sua lei é a lei da liberdade e da dignidade. Devemos habitar o mundo eticamente (o étimo de ética é êthos, morada).”
“E que fazer? Queres saber se esta ou aquela acção é boa ou má? Pergunta a ti mesmo o que aconteceria se todos se comportassem como tu e se quererias isso honrada e dignamente. Se todos mentissem, quem poderia acreditar em alguém? Quererias viver numa sociedade na qual todos roubassem? Se toda a gente matasse, nem sociedade existiria. Se ninguém pagasse impostos, não poderia erguer-se uma vida comum em dignidade e todos perderiam.”
“O grande desafio do nosso tempo é a formação ética, para os valores. Quando isso não acontece, remetemos constantemente para a política, para as leis, para os tribunais... Ora, neste quadro, fica-se confrontado com duas questões temíveis.”
“não é possível legislar sobre tudo, até porque o indivíduo tem mais deveres do que o cidadão, pois há o pré-político e o pré-jurídico. Depois, seja como for, sem ética assumida - e poderia acrescentar: sem referência religiosa ao Absoluto -, fica apenas a lei e a sua sanção, o medo e a esperança de não ser apanhado. Por exemplo, se não se pagar impostos e se for apanhado, tanto pior... De qualquer forma, nesta lógica, sem valores éticos assumidos, acaba, no limite, por ser necessário colocar um polícia junto de cada cidadão, mas, como os polícias também são humanos, é preciso pôr um polícia junto de cada polícia... Ai!, o totalitarismo!”
“A crise tem vários culpados, alguns evidentes. E até é verdade que muitos desses estão a passar incólumes beneficiando das suas tropelias. Justiça e tribunais devem puni-los. Mas também devemos deixar a busca obsessiva de arguidos. É muito estúpido, quando a casa está a arder, instaurar controversos processos de intenção e responsabilidade, envolvendo-se em discussões necessariamente longas. Há um tempo para tudo, e este não é tempo de recriminações. Até porque a culpa última é de todos nós, que cá vivemos estes anos.”
“enfrentar a crise. Os portugueses, que costumam dormir na bonança, dão o seu melhor nos momentos impossíveis. A recessão não tem uma solução; tem milhões. Dez milhões, para ser exacto. Será cada um, lidando de forma prática com as dificuldades reais que se lhe colocam, que construirá a resposta indispensável para a crise nacional. Trabalhar mais e melhor, poupar mais, investir mais e melhor são as saídas, agora como sempre. Além da criatividade, imaginação, improvisação e desenrascanço em que somos peritos. Se fizermos isto uns tempos veremos que a crise passa muito mais depressa que julgamos.”
“A injustiça nacional dos últimos anos deveu-se precisamente a que, sendo novos ricos, por momentos perdemos de vista os antigos valores. A crise tem de ser um chamamento à famosa hospitalidade lusitana.”
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http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1676539&seccao=Anselmo Borges&tag=Opini%E3o - Em Foco
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1705416&seccao=Jo%E3o C%E9sar das Neves&tag=Opini%E3o - Em Foco
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