quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O Confucionismo


Até 1911 a China era uma potência imperial sobre a qual o imperador exercia um poder absoluto, sendo encarado como o representante do seu país junto do preeminente deus do Céu. Ao mesmo tempo, ele era também o filho do Céu na terra. O próprio imperador efectuava sacrifícios ao Céu, no Templo do Céu, na capital, Pequim. Oferecia também sacrifícios às montanhas e aos rios sagrados da China.

O Império da China era uma sociedade ordenada, com Líderes permanentes. No topo da administração encontrava-se uma elite de oficiais com um grau de instrução elevado. A ideologia o Confucionismo, que compreendia pensamentos, regras e sistemas sociais desenvolvidos pelo filósofo K’ un Fu-tse (Confucius, em latim), e as suas doutrinas dominaram, na China, até à queda do imperador. Confúcio tinha ainda estabelecido normas para a vida religiosa, sacrifícios e rituais. Era uma religião de estado praticada pela elite e pelas classes governantes, mas que nunca desceu e se infiltrou completamente na extensa camada popular. Tal como o imperador, no seu palácio de Pequim, estava distante das pessoas comuns, assim o Céu era remoto e impessoal para a grande massa de trabalhadores agrícolas e aldeões pobres. A sua religião era a veneração dos espíritos e dos antepassados, embora também isso, de forma gradual, tenha adquirido características de outras religiões.

Confúcio (551-479 a. C.)

Existe alguma incerteza quanto às origens de Confúcio, mas parece provável que fosse originário de uma família aristocrata empobrecida. Recebeu uma boa educação e tornou-se um sábio, atraindo muitos discípulos. Algumas das suas interpretações da filosofia e da tradição antigas, especialmente no tocante a assuntos de ética e de filosofia social, eram inovadoras. Ele acreditava que o Céu o tinha escolhido para revitalizar a cultura e a moralidade estabelecidas pelos imperadores sagrados em tempos ancestrais.

Após a sua morte, os seus discípulos começaram a espalhar e a desenvolver as suas ideias. Em última instancia, o Confucionismo transformou-se numa espécie de religião de estado, na China, atacando com frequência outras religiões como o Budismo e o Tauismo. Erigiram-se templos em honra de Confúcio e ofereciam-se-lhe sacrifícios na Primavera e no Outono, tal como se fazia em relação ao Céu. Apesar disto, deve sublinhar-se que o Confucionismo nunca existiu como religião independente. Trata-se, mais precisamente, de um termo que cobre conceitos filosóficos e políticos que constituíam o suporte do governo e da burocracia imperiais, apesar de a ética do confucionismo ter invadido largos sectores da população chinesa.

Uma das ideias fundamentais de Confúcio era de que a natureza e o universo estão em harmonia, e que tal se deverá também aplicar ao homem. Com essa finalidade, Confúcio adoptou alguns conceitos chineses antigos e moldou-os aos seus próprios objectivos. Tau é a harmonia primordial do universo ou, por outras palavras, o relacionamento bom e equilibrado entre todas as coisas. Essa harmonia constitui um modelo para a sociedade, na qual o indivíduo deverá também tentar viver em compreensão e harmonia, o que conseguirá se o seu eu profundo estiver em consonância com tao, porque encontrará então o incentivo requerido, te, ou curso correcto da actuação.
De forma a atingir a harmonia com tão, o homem necessita de conhecimento e de compressão, o que poderá obter se estudar a tradição, o passado, aprendendo assim as regras de procedimento correcto, a celebração fiel dos rituais e das cerimonias religiosas, e qual o seu próprio lugar na sociedade.
Confúcio via o homem como naturalmente bom, provindo todo o mal da sua falta de conhecimento. A educação implica, por isso, a transmissão do conhecimento correcto.
O lugar do indivíduo na sociedade é regulado por cinco relações: a relação entre senhor e servo, pai e filho, mais velhos e mais novos, homem e mulher e entre amigos. Significa isto que o soberano deveria ser bom e o servo leal. Significa também que o pai deveria amar e o filho respeitar, uma ideia ligada á veneração dos antepassados. E significa ainda que o homem deveria ser justo e a mulher obediente. O ideal para todos os homens, e os conceitos mais importantes para Confúcio, são a piedade, o respeito e a reverência.

Confúcio acreditava que um ser sobrenatural o tinha inspirado: «O Céu concebeu a virtude dentro de mim.» Mas o céu não era, para ele, um deus pessoal. Apesar do facto de esse deus lhe ter concedido inspiração e direcção, ele não encontrava a sua ética nos preceitos morais legados pelo referido deus.
Importante para Confúcio era que os deuses fossem venerados convenientemente, e que os rituais, sacrifícios e cerimónias fossem executados de maneira correcta, já que isto mostrava piedade de cada um. Mas ele não se preocupava com assuntos religiosos ou metafísicos. «Mostra respeito pelos deuses, mas mantém-nos à distância» é uma citação que lhe é atribuída, e, em resposta a questões sobre a vida depois da morte: «Quando nem mesmo a vida se compreende, como se poderia entender-se a morte?»


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